quarta-feira, 13 de abril de 2011

Companhia de Pina Bausch em POA

Pina Bausch oriental

Começa a venda de ingressos para “Ten Chi”, espetáculo da companhia da lendária coreógrafa alemã que marca o lançamento do 18º Porto Alegre Em Cena

Depois da perda repentina de Pina Bausch em 2009, aos 68 anos, cinco dias após ter sido diagnosticada com câncer, houve um momento de interrogação sobre o futuro da companhia Tanztheater Wuppertal, que desde 1973 havia se tornado sinônimo da inovação provocada na dança contemporânea pela referencial coreó­grafa alemã.
Mas o grupo, em sua maioria formado por colaboradores de longa data, não só continuou como teve sua equipe praticamente inalterada. É esse o elenco que volta a Porto Alegre depois de cinco anos, para apresentações nos dias 23 e 24 no Teatro do Sesi, marcando o tradicionalmente antecipado lançamento do 18º Porto Alegre Em Cena (de 6 a 26 de setembro deste ano). Desta vez, sem a presença física de Pina. Mas é como se ela estivesse por aqui, como sempre.

Sob comando dos coreógrafos Dominique Mercy e Robert Sturm, o Tanztheater Wuppertal apresenta Ten Chi (“céu e terra”). Estreado em 2004, trata-se de um dos diários de viagem em forma de espetáculo criados por Pina em homenagem a lugares por onde esteve (Água, de 2001, tinha como referência uma passagem pelo Brasil). A referência, aqui, é o Japão, resultado de uma estadia de três semanas na cidade de Saitama, na província de mesmo nome, região de Tóquio, o que ganha, coincidentemente, em significado após o recente terremoto seguido de tsunami no país.

Nesta produção “tipicamente cornucópica e sem enredo”, como definiu o resenhista do Los Angeles Times, em 2007, o olhar é deliberadamente o do estrangeiro. Entre a tradição e – principalmente – a modernidade, a cultura japonesa expressa no palco brinca com os lugares-comuns associados ao país, a exemplo de uma menção a produtos eletrônicos japoneses exportados ao mundo e citações de palavras familiares às plateias internacionais, como “sushi”, “samurai” e “gueixa”. Como escreveu certa vez o pesquisador do teatro Patrice Pavis, a repetição de uma ação banal é uma estratégia de Pina para desmascarar “os jogos de poder, as maneiras cotidianas de falar ou de comportar-se”.

Novamente em evidência (em fevereiro, o cineasta Wim Wenders arrebatou o público do Festival de Berlim com Pina, documentário em 3D), a dança-teatro da coreógrafa retorna pela terceira vez a Porto Alegre (em uma turnê programada para passar antes pelo Rio de Janeiro e por São Paulo), depois de uma visita em 1980 e de uma disputadíssima volta, em 2006, durante o Porto Alegre Em Cena, com Para as Crianças de Ontem, Hoje e Amanhã (2002).

Característica da dança-teatro (ou Tanz­theater, em alemão), gênero do qual a coreógrafa é uma das principais expoentes, ao lado de nomes como Gerhard Bohner, Johann Kresnik e Reinhild Hoffmann, a realidade é a principal matéria-prima. Os bailarinos – ou “dançatores” – têm seus movimentos baseados em uma espécie de dramaturgia, produzindo uma dança figurativa que se distancia de vertentes abstratas da dança contemporânea.

Ten Chi leva 17 bailarinos ao palco (incluindo a brasileira Regina Advento), que trabalharão com textos de autores das mais diversas procedências, como o alemão Bertolt Brecht, a polonesa Wislawa Szymborska e o português José Saramago. A música, igualmente multicultural, conta com nomes que vão do japonês Ryoko Moriyama ao argentino Gustavo Santaolalla. Para Pina Bausch, a dança não conhece fronteiras.
FÁBIO PRIKLADNICKI  -  ZERO HORA | SEGUNDO CADERNO